Cansado de
tanto caminhar, o sonhador estava sentado no meio do mato, encostado a uma
árvore de raízes antigas. Sentiu que precisava de um longo período de descanso.
Porém, só o
seu corpo entrou em estado de repouso. No seu íntimo, predominava a confusão dos
pensamentos e a balbúrdia das sensações. Era uma contradição estranha e
recorrente em sua vida – e muito incomum nos dias atuais: Tudo ao seu redor
emanava tranquilidade, mas o seu espírito clamava por paz e equilíbrio. Ele
estava em um desespero que não era expresso ao mundo. O seu torturador só era
conhecido por ele mesmo: porque era ele. O sonhador era criador e
autodestrutivo. E essa destruição também era uma construção.
Toda essa
tortura era movida pelo seu principal ofício: o de sonhar. A sua caminhada que
levou ao cansaço era guiada pelos sonhos. O inimigo que mantém a inexistência
da paz e equilíbrio de sua alma também. Mas
esse inimigo era o seu principal motivador, aquele que também mantém a chama da
esperança acesa. A vida é um jogo, e o sonhador só sabia jogar com passos
largos. Sempre ansioso. Sempre visando o que há à frente. Procurando aquilo que
ele ainda não tem.
Ainda em
repouso, fechou os olhos e tentou não pensar em nada. Nada. Tão improvável. Não
há o ‘nada’ para pensar, o espaço sempre se ocupa. E por isso, as reflexões, as
lembranças e os medos foram surgindo. E os sonhos, sempre os sonhos.
Aos poucos,
isso já não o torturava mais e se tornou a sua única maneira de se sentir
tranquilo. Talvez a tortura estivesse mais ligada à resistência da realidade do
que a realidade em si.
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