Às vezes
tenho um desagradável encontro com um dos Eus que deixei pra trás. Sinto-me
frustrado por ele ainda conseguir me alcançar. Eu o abandonei! Não o quero! Penso
em matá-lo, como fiz com tantos outros... Mas aí o meu medo seria da vontade
fênix dele. Não posso aniquilar o imorredouro. Invariavelmente, muitas vítimas
da carnificina daqueles que constituíram o meu ser se renascem. É inevitável. A essência não se desfaz de suas partículas,
apesar de algumas se enfraquecerem enquanto outras evoluem constantemente.
Fico em um
impasse terrível: sinto uma tremenda antipatia por aquele que foi Eu, mas eu o
amei enquanto ainda era, sendo assim, acho indigno julgá-lo mal. O problema é
que o meu Eu adiante é egoísta. Só quer saber dele. Mas aquele que está à
frente não pode se esquecer da dependência que tem com o que ainda está aqui e
da dívida que ele tem com todos os que o fizeram nascer – os quais são
injustamente humilhados por mim. Como este que vem me alcançando. Eu o enojo. Esse
Eu de antes me irrita extremamente hoje. E causa ansiedade no próximo. O próximo que logo já ansiará o próximo, e o
próximo, e o próximo... Em um ciclo (in)finito - como tudo na vida.
Estamos todos
presos a uma essência. Essa que nos faz um só. Existe uma eterna aliança entre
os Eus que definem o Eu.
Obrigatoriamente necessito lidar com as mortes e ressurreições deles, de mim. Faço, me refaço.
Crio, destruo. Autodestruo. Edifico-me. Enalteço-os e em um minuto posso os
rebaixar. Não me suporto. E então desejo acarinhar-me de tanto amor próprio. A
contradição fere e ao mesmo tempo move. É o impulso para o funcionamento dessas
partículas.
É crível
afirmar que se elas pararem, caso se rendam à indiferença, pode causar uma
carnificina geral e então até mesmo a raiz seria cortada.
Por isso, morro, mas renasço.
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