Subitamente desperto de um profundo
sono.
Tão profundo que pareceu mais uma
morte da qual acabo de reviver, sem explicações.
O estranho é que apesar de desperto,
ainda está tudo escuro - não de uma forma comum, e sim como se meus olhos
continuassem fechados. Mas tenho plena certeza de que os abri no momento em que
acordei, ou renasci.
Será que fiquei cego?
Será possível?
Nunca pensei na ideia de me habituar
à escuridão, pois sempre tive medo de seus mistérios e encantos ocultos.
Ela é assustadora, mas não nego que
também me acolhe quando mais preciso.
Estou absolutamente sem nenhuma
memória desde o segundo em que despertei. As coisas que estou dizendo, das
quais escrevo em seus olhos abertos, são coisas que eu sei apenas por saber.
Algo como respirar.
Encontro-me num lugar que desconheço
e não faço ideia de como vim parar aqui. Um vento gelado me toca. Sinto-me com
frio. Muito frio.
E o negro sonda minha visão.
De repente, uma luz surge à minha
frente como um milagre. Uma tênue luz acompanhada de calor abre meus olhos e me aquece.
Isso, meus senhores, é fogo - o qual
carinhosamente chamo de esperança. O que o sustenta é uma vela sob uma pequena
mesa redonda de madeira.
Aos poucos, o cenário vai se
desenhando em meus olhos.
É bonito. A chama dança conforme o
vento, balançando suavemente de um lado para o outro, com singela
autenticidade.
Observo a cera da vela se derreter e
o processo me faz pensar em lágrimas. Há certo sentido em pensar que a vela
está chorando quando levamos em conta que o objeto representa finitude – como tudo
que ocorre na vida.
Hipnotizado pela única coisa
observável à minha visão, tenho um súbito desejo de querer tocar o fogo. A intuição me diz que não devo, mas o que
tenho a perder?!
É crível afirmar o quão forte se torna o
impulso do ser humano por tudo o que lhe é esteticamente belo.
Rendo-me.
Queimo.
Sinto a dor.
O desespero faz com que eu descubra
em mim o grito. O meu medo desmesurado do novo que machuca.
Mas o que sinto após isso não é
raiva, e sim um encanto maior pelo seu poder.
O fogo é o meu espírito.
Qualquer tentativa de contê-lo
incorrerá em sua extinção ou na destruição do que o tenta aprisionar
Por isso, antes que a vela se finda e
o fogo desapareça, tomo uma decisão por puro instinto:
Expando-o.
Como?
Bom, não posso contar.
Mas deixo o elemento mais belo me
consumir e, então, toda a sala está em chamas. O que antes era escuridão e
frieza, agora é brilhante e quente. Sinto-me o próprio sol.
Sei que após isso surgirá cinzas, e
assim é o único jeito de fazer com que nasça a fênix.
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