por Matheus Campos
Eu já não sou mais eu e não sei o que sou.
Eu já não sou mais eu e não sei o que sou.
Já
não quero mais o que quis, mas ao menos sei o que busco.
Sei
também que meus passos são pesados e corro na direção de um objeto que se move.
Não posso caracterizá-lo - desconheço sua verdadeira forma. Ele foge de mim.
Quanto mais eu penso que estou me aproximando, mais a coisa fica distante da
minha vista. E o mais estranho de tudo é que a sua imagem se distorce a cada
novo olhar que dou.
É
possível que eu não o alcance por não me pertencer. Como saberei se é o caminho
errado? A experiência instantânea de viver não permite ensaios. A missão foi
dada sem objetivos. Ou os objetivos foram dados sem uma missão. Ou não há
missão. Ou não há objetivos. Ou há. Ou não há.
Haverá?
Há de ser?
Já
foi?
Sinto-me
cego, pois não me é permitido ver o todo. Sinto-me surdo, pois não ouço todos
os recados com clareza. Sinto-me mudo, pois não tenho direito à verdadeira voz.
Adentrar-me-ei,
mais uma vez, num redemoinho de obrigações e verdades que não são minhas. Sou
jogado como se fosse leve, mas peso como
se eu não pudesse nem me levantar. Apesar disso tudo, caminho - mais do que isso:
corro.
Corro de e corro atrás. Interesses, desejos, vaidade - repito: corro deles e corro
atrás também. Mas temo o mal. Tenho repúdio ao tédio e fico assustado com o
karma. É fascinante!
Disfarço-me
com uma harmonia irônica que me isenta de comparativos e frustrações. Eis o
(des)equilíbrio do ser. Eis o romantismo de viver.
Sou
um enigma. Às vezes me vejo nas luzes que iluminam noites amargas -
amedronta-me saber que talvez eu seja só um fragmento da escuridão.
Sou
a esperança. O porto-seguro de uma obscuridade proclamada. A afirmação de que
tudo vai ficar bem. O toque agridoce naquilo que já havia se azedado.
Sou
um vagalume. Carrego em meu próprio corpo a sina de dar brilho à vida. Em meu
voo finito crio uma alusão psicossomática ao alívio de iluminar a si e aos
outros.
Foi
me dado apenas um recado: "voe sem o medo de que roubem tua luz".
Já
estou morto e me sinto mais vivo do que nunca.
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