quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Sinais

por Matheus Campos

            Eu já não sou mais eu e não sei o que sou.
Já não quero mais o que quis, mas ao menos sei o que busco.
Sei também que meus passos são pesados e corro na direção de um objeto que se move. Não posso caracterizá-lo - desconheço sua verdadeira forma. Ele foge de mim. Quanto mais eu penso que estou me aproximando, mais a coisa fica distante da minha vista. E o mais estranho de tudo é que a sua imagem se distorce a cada novo olhar que dou.
É possível que eu não o alcance por não me pertencer. Como saberei se é o caminho errado? A experiência instantânea de viver não permite ensaios. A missão foi dada sem objetivos. Ou os objetivos foram dados sem uma missão. Ou não há missão. Ou não há objetivos. Ou há. Ou não há.
Haverá? Há de ser?
Já foi?
Sinto-me cego, pois não me é permitido ver o todo. Sinto-me surdo, pois não ouço todos os recados com clareza. Sinto-me mudo, pois não tenho direito à verdadeira voz.
Adentrar-me-ei, mais uma vez, num redemoinho de obrigações e verdades que não são minhas. Sou jogado como se fosse leve, mas  peso como se eu não pudesse nem me levantar. Apesar disso tudo, caminho - mais do que isso: corro.
Corro de e corro atrás. Interesses, desejos, vaidade - repito: corro deles e corro atrás também. Mas temo o mal. Tenho repúdio ao tédio e fico assustado com o karma. É fascinante!
Disfarço-me com uma harmonia irônica que me isenta de comparativos e frustrações. Eis o (des)equilíbrio do ser. Eis o romantismo de viver.
Sou um enigma. Às vezes me vejo nas luzes que iluminam noites amargas - amedronta-me saber que talvez eu seja só um fragmento da escuridão.
Sou a esperança. O porto-seguro de uma obscuridade proclamada. A afirmação de que tudo vai ficar bem. O toque agridoce naquilo que já havia se azedado.
Sou um vagalume. Carrego em meu próprio corpo a sina de dar brilho à vida. Em meu voo finito crio uma alusão psicossomática ao alívio de iluminar a si e aos outros.
Foi me dado apenas um recado: "voe sem o medo de que roubem tua luz".

Já estou morto e me sinto mais vivo do que nunca.

                      

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