por Matheus Campos
No recôndito de mim
encontrei o meu oposto.
Vi o seu rosto.
Senti o seu
desgosto.
E tudo isso também
é meu.
Ele é meu maior
aliado e também aquele com quem tenho o pior dos conflitos. Esconde-se na minha
carcaça por medo das vozes que surgem para atormentá-lo à noite. Os pássaros de
asas cortadas se aninham todos no escuro - e eles conversam entre si como se conhecessem
todos os meus segredos mais sombrios, tal qual o pior de todos: eu os deixei
incapacitados de voar. E não nego que foi por puro egoísmo humano.
O mesmo egoísmo que
já não quis ajudar por preferir a si mesmo. O mesmo que, um dia, invejou por
raiva de outrem. É o mesmo que também deseja - profundamente. A satisfação
imediata de ser e receber. O gozo nos prazeres do mundo. Muitas vezes tão imerso em mim que me esqueço de todo o resto.
... Encontro-me com
o lado negro de mim porque visceralmente sou. O ser de amor e bondade é real,
mas muitas vezes se disfarça de uma máscara cintilante que atrai - o obscuro, o
intrínseco, o desbocado afasta, mas também atrai: o mais verdadeiro que há. É
uma dança entre os dois lados. Ambos são intensamente um só.
Obstinadamente o
meu lado inverso se desfaz e, só então, eleva a minha enigmática alma ao
lembrar-se de suas ambições. O entrelaçamento daquilo que desperta nos
meus sonhos com aquilo que vivo cria o apogeu do que sou, do que fui e do que
jamais serei.
O grito
enclausurado quase me matou, mas o silêncio me fortaleceu. O silêncio arrebatou
qualquer emoção que poderia arrancar minhas entranhas. Levar-me-ia ao fundo do
céu antes que eu caísse no mais profundo buraco.
Permanecem, enfim,
a indiciosa vontade própria e o mais belo sonho humano. Unidos. Sendo, cada um
deles, visceralmente eu.