O antes e depois de um abraço imaterial.
por Matheus Campos
por Matheus Campos
Antes de tudo, peço perdão pelo
pecado de escrever palavras melancólicas em noite de lua cheia. Juro que
contemplei com sensibilidade toda a beleza da qual me foi apresentada, mas não
consegui escapar do abraço de um espírito abatido, que há tempos clama por
minha atenção. Tolice a minha achar que poderia fugir. Eu já compreendi que, de
alguma forma, ele sempre volta.
Aliás, confesso que essa minha
resistência àquilo que já se faz presente é parte de certo fetichismo. Sinto
prazer em descobrir sensações – afinal, elas só são descobertas em atos de
rebeldia. É uma contínua busca de controle dos sentidos que vão além da carne,
além da alma. O abraço melancólico do meu encosto não é ruim, pelo contrário. Sinto-me
aquecido e acompanhado. Mas eu tento resistir. Resisto para criar uma batalha
de contrários: o amargo ao doce. A solidão à companhia. O ímpeto à paciência.
Etc.
Só assim as coisas poderiam
caminhar. A longa e tediosa estrada bifurca-se após os conflitos.
O problema é que não tenho força
o suficiente para confrontar os meus contrários perfeitos, ou seja, tudo aquilo
que já é por si só: o tempo, as dúvidas, os medos, os desejos. A incerteza.
Todas essas coisas constituem a forma imaterial do espírito que olha para e por
mim– por vezes angelical, noutras demoníaco.
Concedi então, pela primeira vez,
a permissão do abraço sem medo. Ironicamente descobri uma sensação nova também
ao ser acarinhado: a iminência. Enquanto não havia batalhas, nada acontecia.
Surgia então a sensação de ameaça, aproximação, urgência. Mas do quê? Não soube
e não teria como saber. Eis o desespero: o logo, o quase, o não concluído.
Sei que o intuito do desconhecido é também me trazer paz. Quantas
almas errantes poderiam encontrar refúgio neste abraço que deriva no vazio?
O meu sufoco surge por conta de eu ser imbuído de
propósitos. Ou por pensar que sou.
Fecho os olhos e busco adentrar na realidade sonífera. O
abraço se desfaz. As sensações morrem antes do amanhecer para, logo mais, dar
lugar a outras.
O espírito, portanto, fica iminente ao meu renascimento.
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