Todo ser possui diferentes versões de si a perambular pelos seus purgatórios.
Por outro lado, várias outras permanecem vivas e batalham por espaço em uma vida cada vez mais exígua. Vivem com sofreguidão, mas vivem. Devemos nossa atenção a elas.
Há também algumas que são privilegiadas e só têm vontades banais. Não sofrem, não imploram por nada, não são excluídas. Aparentemente plenas, porém fracas. Qualquer coisa que não busca ou não necessita vai se enfraquecendo cada vez mais - até a existência ser somente o que já é por si só: existir. Ocupa-se o vácuo.
As nossas criaturas mais fortes são mesmo aquelas que estão vorazmente em busca de sobrevivência.
São os nossos vampiros sedentos.
E entre eles ainda há a divisão: os que degustam o sangue e os que se alimentam dele com um instinto selvagem.
O próprio sangue.
Aprendi a deixar que se alimentem do meu sangue, pois compreendo a sede.
Compreendo também a satisfação.
Das vezes que bebi doses quando a sede era de litros.
Do tempo que eu não me permitia me entregar à ausência e hoje, junto com a fantasia e a imaginação, ela me consome. E vampiros diáfanos me sugam.
É natural.
É tão natural que me rebelo quando tentam proibir que eu beba dessa fonte.
Sirva-se.
Assim como não se ensina a respirar, não se ensina a beber: bebe-se.
Só não pode ficar com sede.