domingo, 13 de agosto de 2017

A dança da noite

No silêncio da noite, eu danço.
Danço sem fazer muito barulho para não acordar meus semelhantes.
Os primeiros passos são leves, pois a música começa com um ritmo suave - um, dois para o lado direito; três, quatro para o lado esquerdo.
Levanto meus braços e começo a rodopiar as minhas mãos, movimentando todos os dedos, sentindo toda a força de um ritual que consiste justamente na leveza.
Meus olhos estão fechados para que eu possa sentir a minha obscuridade e não o breu do entorno. Conheço e sei lidar com a intensidade do meu ser, mas não sei se estou preparado para a do mundo.
Continuo a dançar, intensifico os meus movimentos a fim de aprender mais sobre a necessidade que tenho deles. Ou compreender a necessidade que eles têm de mim, afinal, é o ritmo que me controla e nunca o contrário.
Há diferentes tipos de danças para vontades e sentimentos variados: a valsa dos românticos, a quadrilha dos divertidos, o balé dos disciplinados, etc. Somente uma delas é cabível de ser dançada na solidão - e os passos são feitos sempre à noite, a partir do medo e da necessidade.
Por alguma razão que desconheço, essa dança me escolheu e é meu destino segui-la.
A dança da noite me protege dos meus inimigos ocultos.
A dança da noite faz eu me aproximar dos meus desejos mais profundos.
A dança da noite nunca falha comigo.
E eu permanecerei dançando no escuro enquanto não encontrar a minha essência na luz do dia, pois esses rituais noturnos têm sido a minha salvação enquanto eu não encontro quem saiba acompanhar meus passos. A noite é bonita como o dia e a prefiro. Apesar de saber da importância de ambos: não é uma dicotomia.
Só tenho uma certeza: enquanto houver vida para meu ser, haverá dança para que minha existência não deixe de ser um trabalho de arte.
Para que eu seja sempre a maior expressão do que posso ser.

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