Veja!
Há uma criatura
que se tortura no meio do caminho.
Não é humana,
disso tenho certeza, pois possui um aspecto bestial atroz.
Reparando com
atenção, pode-se ver que ela está trocando a própria pele, substituindo uma
feia e suja por uma nova, com cores mais vivas. Como uma serpente! Sim,
exatamente como uma serpente!
Mas ainda
assim, aquilo não era uma cobra. Certamente não.
Ao concluir o
processo de metamorfose, aquele ser passa a se rastejar. Está se conhecendo e
tendo a percepção do ambiente sombrio que o permeia.
De início,
mostra-se curioso ao ver apenas paredes de concreto e corredores a cada entrada
visível. Não sabe por qual caminho
prosseguir. Ou se deve prosseguir. Não há a mínima compreensão do que se é, de
como foi parar ali – aliás, aos poucos, surge apenas uma inicial certeza: a de
seus desejos.
Não posso enxerga-los,
mas os seus instintos naturalmente clamam por carne. A criatura, que também é
carne, passa a grunhir encarniçadamente buscando mais do que isso. A busca é a
de um preenchimento. Um poder visceral leva-o a rastejar por cada corredor. Por
todos os caminhos ele adentra desesperadamente à procura. E procura sem cessar.
Até que esgota-se
pelo cansaço.
Deprime-se
pela solidão.
Mas, aos poucos, ele começa a perceber que não está sozinho. Ele sente o calor da proximidade. E, de fato, ele não está só. Há eu, que o observo sem seu
conhecimento. E há mais duas presenças, imateriais, porém vivas.
Poderia fazer mistério sobre elas, mas não. São onipresentes e se apresentam por suas vozes que ecoam o labirinto, atordoando ainda mais a criatura. Pensa que
está delirando, obviamente, e tenta não dar atenção àquele barulho, mas é insuportável.
Então, de
um ímpeto, elas vão ao seu encontro: Uma se apresenta como Razão, e a outra,
Emoção. São indescritivelmente belas, porém, obscuras. Meras palavras não são
encontradas para descrever as suas características. São enigmáticas como aquele
ser.
A criatura,
desconfiada, somente as questiona com uma simples dúvida:
‘Qual o propósito?’
Elas,
surpresas, dão grande espaço uma à outra. A primeira que responde é a Razão:
‘É um jogo. Do
qual as regras nunca mudam - apesar de que as peças e os jogadores são variáveis,
dispostos à mutação. Assim como você fez com sua pele. ’
A Emoção, por
sua vez, lhe dá um alerta:
‘Cuidado com
a forma como você vai jogar, e principalmente como lida com o jogo. Vejo que há
cólera em ti pela falta de compreensão, mas há também a sua sensibilidade, que
permite dar espaço à esperança de encontrar um fim. Intua-se. ’
O ser passa a ter mais clareza e tenta encontrar sua própria saída. Aquele jogo foi
criado por ele mesmo, enredado em seus próprios conflitos. A perdição era a sua
sina.
As regras
realmente nunca mudam.
Agora, ele segue
o seu caminho guiado por ambas as presenças reveladas.
Eis que, inesperadamente, surgem novas. Essas estão seguindo a Razão e a Emoção o tempo todo:
Essas se apresentam como As Palavras!
São as mais perigosas de se lidar
Tanto que a criatura perdeu-se entre elas.
As Palavras, sem ele nem perceber, o fizeram de refém.
E As Palavras, ironicamente, recitaram as seguintes... palavras:
sei que o coração paga
pelo que tua boca fala
é como receber um tapa
da mesma mão que te afaga
a vida cospe na tua cara
o vil sangue que escarra
e o que sucede te mata
pois há medo e algazarra
Ele tenta fugir. Medo e algazarra. As palavras ecoam...
Medo e algazarra
Ele corre...
Medo e algazarra
O som cada vez mais distante...
Até que ele encontra uma escapatória.
Para isso, mais duas companhias aparecem para ajudá-lo:
O Prazer e a Dor.
Mas, ao contrário das outras, elas se instauram no silêncio, que é uma espécie de porto seguro.
O Prazer lhe toca, mas quem ele sente se aproximar é a Dor.
Ele, novamente, recorre à Emoção para se livrar da angústia de se sentir dolorido, mas ela também o tortura. Uma doce tortura da qual ele quase se apaixona.
Só quem lhe resta é a Razão...
Mas não dá pra deixar de lado a Emoção, mesmo sendo tão difícil aproximar ambas.
Impossível.
Ou será possível?
De algum jeito?
Qualquer que seja?
Eis que, inesperadamente, surgem novas. Essas estão seguindo a Razão e a Emoção o tempo todo:
Essas se apresentam como As Palavras!
São as mais perigosas de se lidar
Tanto que a criatura perdeu-se entre elas.
As Palavras, sem ele nem perceber, o fizeram de refém.
E As Palavras, ironicamente, recitaram as seguintes... palavras:
sei que o coração paga
pelo que tua boca fala
é como receber um tapa
da mesma mão que te afaga
a vida cospe na tua cara
o vil sangue que escarra
e o que sucede te mata
pois há medo e algazarra
Ele tenta fugir. Medo e algazarra. As palavras ecoam...
Medo e algazarra
Ele corre...
Medo e algazarra
O som cada vez mais distante...
Até que ele encontra uma escapatória.
Para isso, mais duas companhias aparecem para ajudá-lo:
O Prazer e a Dor.
Mas, ao contrário das outras, elas se instauram no silêncio, que é uma espécie de porto seguro.
O Prazer lhe toca, mas quem ele sente se aproximar é a Dor.
Ele, novamente, recorre à Emoção para se livrar da angústia de se sentir dolorido, mas ela também o tortura. Uma doce tortura da qual ele quase se apaixona.
Só quem lhe resta é a Razão...
Mas não dá pra deixar de lado a Emoção, mesmo sendo tão difícil aproximar ambas.
Impossível.
Ou será possível?
De algum jeito?
Qualquer que seja?
Talvez eu
saiba a resposta, mas não posso dizer. Não quero estragar o mistério.
Afinal, é a única
forma de encerrar o jogo.
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